O poeta escocês Don Paterson conta que um amigo acaba de aderir à “internet banda larga”, mas que seu aspecto anda péssimo. Encontrou-o, outro dia, com o rosto pálido e os olhos injetados. Seu amigo não dorme mais, passa dias e noites fazendo downloads. Quer recuperar todos os discos que um dia teve, perdeu, desejou ou que, remotamente, chamaram sua atenção. Ele, na verdade, nem tem paciência para ouvi-los, anda obcecado por uma tal de “progress bar”. É como se todos seus aniversários tivessem chegado ao mesmo tempo – e é talvez por isso, insinua Don Paterson, que seu amigo está com um aspecto quase moribundo... Quem nos traz essa história é John Freeman (na lembrança de Tiago Dória), a propósito do lançamento de seu livro A Tirania do E-mail (ainda sem tradução no Brasil). Freeman usa o e-mail como exemplo, mas sua reclamação é contra a “velocidade”, a pressão por “produtividade” e o desejo de “crescimento” infinito em nossos dias. Talvez na contramão do onipresente Free, de Chris Anderson, Freeman (que ironia) nos alerta que, embora as opções sejam cada vez em maior quantidade, nossa vida é finita, nosso tempo é limitado e, portanto, temos de fazer escolhas. Não podemos ter tudo, nem mesmo com toda a tecnologia – e principalmente, como já disse Schopenhauer, não podemos querer tudo o que queremos. Segundo Freeman, abdicamos da nossa vida pessoal, ignoramos os sinais do nosso próprio corpo e nos afastamos da nossa realidade mais profunda em nome de um frenesi tecnológico, que aparentemente proporciona mais oportunidades e mais recompensas – mas a que preço? O e-mail – ou o que ele representa para Freeman – está nos escravizando, fomos afastados das pessoas com quem deveríamos conviver e não temos mais paz de espírito. Conectados, “on-line”, plugados... chamem do que quiserem, John Freeman, também editor da revista Granta, conclui que estamos vendendo nossas almas para estar eternamente disponíveis. Valeria a pena?
Extraido de: Digestivo Cultural http://www.digestivocultural.com/arquivo/nota.asp?codigo=1603
O grande desafio dos tempos atuais penso ser a seletividade. A enxurrada de infomações disponíveis nos toma muito tempo. Temos que aprender a ser seletivos quanto ao que lemos e ouvimos. A internet pode nos tomar tempo precioso. Quantos e-mails de anúncios recebemos por dia e quanto tempo gastamos somente para deletá-los ?
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