30/12/2009
Les Chansons d’Amour
É curioso: procurando imagens de “Les Chansons d’Amour” pela Internet, não encontrei nenhuma que contenha a personagem de Grégoire Leprince-Ringuet, Erwann, apesar da sua inegável importância para a personagem principal, Ismaël. Não que a que escolhi seja desadequada, porque ilustra perfeitamente a premissa de que parte o filme, mas que está longe de ser uma realidade no final da fita. É um aparte com importância duvidosa, e é provável que estejam a pensar “que raio de introdução”. Pois bem, “As Canções de Amor” é um musical que aparenta um filme “ligeiro”, mas que acaba por ser uma profunda ode a esse sentimento incansavelmente explorado no mundo das Artes.
Cristophe Honoré escreve e realiza, então, um musical sobre três personagens (Ismaël, Alice e Julie) envolvidas numa relação cuja natureza desafia as convenções, e que se vêem confrontados com a realidade e as consequências das suas escolhas após um evento trágico que envolve um deles. Aliás, “confrontados” não será o termo mais preciso, uma vez que sempre que o assunto vem à tona, todos parecem encarar a sua situação como algo de bizarro, complicado, embora agradável (e conveniente), pois o mais certo seria que, sem Alice, já nada existisse entre os outros dois (algo sugerido até numa das músicas iniciais, e desenvolvido consequentemente)...
As músicas (que dão título ao filme e que são, no fundo, o seu cerne) celebram os sentimentos das personagens, focando, como é óbvio, o amor, nas suas mais variadas formas. Combinam bem com o que é apresentado e têm letras muito interessantes. Nelas é discutido o amor maduro por oposição ao amor mais juvenil e inconsequente, a forma como as personagens são influenciadas pelo ambiente em redor, etc. Aprofundar este aspecto seria revelar demasiado do que acontece após a primeira parte (elas são três, “Le Départ”, “L’absense”, “Le Retour”), por isso fico-me por aqui e deixo que descubram, portanto, a que se referem os títulos que separam os diferentes momentos da história.
“Les Chansons d’Amour” é ambientado numa Paris cinzenta e chuvosa, detalhe que espelha as personalidades das personagens, cujas acções oscilam constantemente e nem no fim se enquadram no “preto” ou no “branco”. Refiro-me, como é óbvio, à jornada de Ismäel, uma vez que Alice encontra a sua conclusão ao ajudar o amigo. O final do filme, e aquele que é dado à personagem, decerto que será controverso e incompreendido. Contudo, não me pareceu que destoe do realismo que até aí caracterizou a história; aliás, a meu ver, tudo no filme é apresentado com uma naturalidade que, não sendo ingénua (antes pelo contrário), lhe confere um ar muito próprio e uma honestidade invulgar.
Não me surpreendeu que “Les Chansons d’Amour” fosse tão bom, dados todos os louvores que lhe foram prestados. Trata-se de um bom exemplar do cinema francês da actualidade, que vale muito a pena ser visto. A jeito de conclusão, deixo a melhor frase do filme (aparentemente, ela própria uma citação): “Aime moi moins, mais aime moi longtemps”.
Rúben Gonçalves
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário